6.11.09

Cedotardar

"Tenho no peito tanto medo, É cedo.
Minha mocidade arde, É tarde.
Se tens bom-senso ou juízo, Eu piso.
Se a sensatez você prefere, Me fere.
Vem aplacar esta loucura,Ou cura... "

Acontece que tudo funciona mesmo muito rápido por aqui.

Não meço o tempo justamente porque aos acontecimentos instantâneos é que devoto a minha energia e, mesmo dependente desta lógica absurda a que somos todos submetidos, faço o que posso para me gastar mais observando uma nuvem se desmanchando do que compondo filas de bancos. Por essas e outras é que não te asseguro que estarei parada amanhã nesta mesma hora e lugar, que ainda amanhã permanecerei sentada nessa mesa com o palpite de que já já te verei chegando. Não. Saiba que há muito tomei saber das coisas que posso perder por ser assim, tão paciente. A espera é um luxo ao qual não posso me render.

Deixo avisado também que nenhuma dor é definitiva, aprendi com a sucessão de desesperos. Um dia a gente acorda e ainda está ali, mas cicatrizado. E vivo. Mas acontece que tudo funciona mesmo muito rápido por aqui. Muito, muito rápido.

_Thais Gulin/Tom Zé - "Cedotardar"

4.11.09

Sobre um sábado de abril e outras memórias



"Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste
minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas
coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz,
fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Mesmo que a gente se perca, não
importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que
seja bom o que vier, para você, para mim."
(Caio Fernando Abreu)
É que ontem foi sábado, um igualzinho aquele outro perdido lá por abril. Tarde de sol e inquietude, um passeio por aí, sozinha. Prendi os cabelos pensativa e cautelosa, prestando atenção no que me acontecia pelos lados do coração. Saí carregando uma esperança enorme agarrada nos dedos, dessas capazes de mudar todas as peças de lugar. Andei e andei e andei, não sei dizer por quanto tempo ou por quais lugares, me ocupei tanto em lembrar cada detalhe teu, cada detalhe nosso, estampas ainda frescas na minha memória que agora arde. Te encontrar no parque, em qualquer um deles. Webcam ligada pra ver teu cabelo bagunçado. Visita inesperada. Passeio de carro para qualquer ou nenhum lugar. Música. Quando a sexta-feira chegava. Abraço de tchau no domingo. Briga boba. Beijo urgente. Risadas, muitas. Esperar a tua ligação de noite. Uma saudade provisória e alegrias definitivas.
Quando voltava pra casa, naquele sábado de abril, enquanto atravessava a rua eu te reconheci. E soube, com alguma estranheza, que era tarde para impedir aquele rosto pouco familiar mas já querido de ser parte de mim.
Ontem, depois de arranhar minhas recentes lembranças para que caíssem vivas aos meus pés, a passos lentos fiz o mesmo caminho daquela tarde, torcendo por um milagre: você na minha porta, pra começar tudo de novo.
A esquina vazia me doeu mais do que tudo o que você me disse, me desengasgou as lágrimas e as conclusões. De repente entendi que a minha espera, a partir de então, seria mais triste, mais longa, mais tardia. Seria a espera pelo esquecimento, pela cura, se quiser chamar assim. A espera pelo coração silenciado.

_Yiruma - "River Flows in you "