5.2.09

Chinelo Roxo

Ela e seu mau-humor passearam a tarde toda, rodaram rodaram o campus e pararam ao pé do abacateiro esperando cair a luz para onde sabe-se-lá. Sentada ali, pensou profundamente sobre todas as idéias que lhe ocorriam por impulso. Exercício de imaginação é acalmar. A história de respirar vagarosamente só a forçava franzir mais a testa, não haveria de funcionar justo ali.
Tanto nervosismo para pouca idade fazia-lhe sondar outras vidas com a inveja fechada nos punhos. Para que haveria de existir tanta gente caminhando com despreocupação enquanto ela, justo ela, sentia o murchar nítido da alma ?Desejava uma fatia de amor mais do que o próprio sossego, desejava companhia. A solidão suportaria bem, sempre suportou. Mas não dividir-se em alguém, para quem a vida toda ofereceu um olhar solícito, seria o fim.
Ao ver espatifar no chão o abacate, levantou-se de súbito, impressionada com a força ríspida nascida de dentro. Iria em frente, sim. Iria ao início do caminho, desobedecer as placas outra vez. A barra das calças sujas de terra levaria de lembrete, 'já estive aqui'.
Calçou o gasto chinelo roxo e foi. Seguiria a pista da natureza: o apodrecer do fruto, carcaça e semente. Deixe estar e ande, tudo renascerá.



_Little Joy - "Play the part"

5 comentários:

Gusthavo disse...

"Meu cachorro comeu meu chinelo. Vou escrever uma coisa triste"

Seu cachorro devia comer chinelos todo dia, Natacha. Benzadeus!

miatrix disse...

uau.
emudeço.
na vigésima leitura comentarei decentemente.

Bá Meneghetti disse...

háhá , euri :D

miatrix disse...

natacha e suas fans

Anônimo disse...

quando eu t vi achei que tinha cara de quem trepa mas t lendo acho que faz amor